quinta-feira, 14 de julho de 2011

Relato sobre os porões da ditadura militar na aula de Cultura e Cidadania

Paulo de Tarso Carneiro, alguém que sabe bem o valor da memória

A aula de Cultura e Cidadania por si só já é especial. É um momento para alunos e professores discutirem os principais problemas que enfrentam em suas comunidades, e os principais desafios que enfrentamos em nossa sociedade. É também um momento para refletirmos sobre como enfrentar esses problemas e desafios, e como nossa futura carreira universitária pode nos auxiliar nessa tarefa. É por tudo isso uma das características que diferencia os pré-vestibulares populares e os pré-vestibulares comerciais. Mas a aula de cultura e cidadania da última terça-feira, dia 12/07, sobre a ditadura militar, foi especialmente especial. Isso porque se tratava de uma aula sobre a ditadura militar recebemos a visita de Paulo de Tarso Carneiro (foto acima), histórico militante de esquerda que participou da resistência à ditadura, que junto a Enilza, uma das fundadoras do Zumbi, relembrou e refletiu o que passou nos anos de repressão.

Foto retirada no final da aula, com alunxs, professorxs e colaboradorxs do Zumbi

A história da amizade entre Paulo de Tarso e Enilza é muito peculiar. Os dois se conheceram nas dependências do DOPS, quando Enilza era uma funcionária encarregada de levar comida aos presos, e Paulo de Tarso estava encarcerado por sua participação na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, grupo de resistência à ditadura militar. Ambos presenciaram torturas bárbaras, o que motivou Enilza a começar a ajudar aqueles presos, e iniciou uma amizade entre eles, que só se efetivaria quando anos mais tarde se reencontraram na militância política.

O depoimento dos dois foi registrado em vídeo, e disponibilizamos abaixo na íntegra. É imperdível! Ambos nos brindaram com uma análise lúcida e crítica dos anos de chumbo. Falaram sobre o que viveram no DOPS, sobre o contexto sócio-político da época, e sobre as diversas formas de repressão que marcaram a sociedade. Paulo falou sobre sua história de vida e como ingressou na militância política. Embora Paulo de Tarso também tenha sofrido torturas horríveis, elas definitivamente não dominaram sua fala.  O porquê disso fica claro quando ele explica como conseguiu enfrentar as consequências (físicas, psicológicas e sociais) da tortura, um dos pontos altos do depoimento (parte 5):
"Enquanto tu fica odiando o teu torturador, ele está sempre contigo. [...] Perdoar o torturador não é beneficiá-lo, é eu me libertar. [...] Nesse processo, eu não posso estar culpando fulano, João, Antônio que me torturaram... [...] A verdade é que eles cumpriam ordens, e faziam isso porque tinham um respaldo que vinha de cima."
Aqui vemos claramente a postura madura de alguém que não deixa o medo e o ódio vencer o amor e a vontade de viver.

Lista de reprodução com 7 vídeos e duração total de 1 hora, 21 minutos

É interessante comparar o depoimento com o que os próprios agentes da repressão falam sobre o período, como pode ser visto em uma reportagem do Conexão Repórter (parte 1 | parte 2). É impressionante ver que até hoje esses sujeitos ainda justificam boa parte dos crimes de Estado cometidos na época da ditadura. O contraste leva a uma reflexão sobre até que ponto as pessoas conseguem flexibilizar sua moral para justificar seus atos. E mais uma vez coloca em evidência a necessidade de acabar com a censura (que ainda existe) à essa página da nossa história. Abertura dos arquivos da ditadura já!

Um comentário:

  1. O assunto "DITADURA MILITAR" é sempre muito interessante. Parabéns pelo trabalho de vocês.

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