Percepção do ambiente
Márcio Fernandes
Objetivo: Condicionamento físico (treinamento de audição, tato e olfato), treinamento à coletividade, solidariedade, confiança e parceria.
Metodologia: Um estudante terá os olhos vendados e será giado por outro colega até determinada árvore (serão utilizadas mudas de espécie arbóreas); após o contato com a árvore retorna ao ponto de início e sem a venda tentará identificar o vegetal.
Conclusão: As atividades lúdicas "quebram traumas e medos", pode aumentar o sentido de responsabilidade e respeito em quem conduz o colega que não está enxergando, além de desenvolver habilidades sensitivas, equilíbrio físico e senso de direção, nos alunos que estão vendados.
Relato de vivência – 8 anos de educação popular (*)
Este relato é parte integrante da proposta do I Encontro de Educadores, e está sendo uma experiência fascinante o de tornar-se professor, aprender a cada aula, com erros e acertos a melhor forma de atingir o estudante, de “tocá-lo” com o conhecimento, de mostra-lhe algo novo, inovador à sua vida, e bem mais que isso, provoca-lo a colocar em prática aquele algo novo, aquele conteúdo.
Passei em Ciências Biológicas na PUCRS em 2003, e já fazia monitoria no Zumbi dos Palmares Pré-vestibular, nunca mais larguei o giz. Foi à maneira que achei de retribuir a sociedade pelo ingresso a faculdade, mostrando aos demais estudantes que podem fazer parte do meio acadêmico.
Sei que o papel que desempenho em sala de aula reflete na vida dos vestibulandos, e é bem possível que não se esqueçam de mim, não pela “minha beleza”. Mas pela maneira que desenvolvi com o tempo de mostra-lhes o quanto é fácil estudar, e quanto pode ser agradável aprender.
Vejo confiança nos olhos deles quando estou em sala de aula, naquele momento sei que o desafio de aprender tornou-se fascinante para eles. É recíproco o carinho, o modo de tratar, não há barreiras, isso torna fácil o acesso a suas mentes, a maneira de refletir e pensar sobre o assunto, e saber a melhor forma de fazê-los achar a resposta.
As turmas sempre são heterogêneas, é um fato, então por que trata-los iguais? E pensando dessa forma que sempre procuro abrir um leque de exemplos didáticos e dinâmicos do cotidiano sobre aquele assunto estudado, e se for necessário darmos as mãos para visualizar uma cadeia alimentar, sendo cada pessoa o representante de um nível trófico, fazemos, ou subir na classe para exemplificar difusão, ai vou eu. O estudante gosta disso, de ver o que se aprende, de sentir, de pegar, de torna palpável o conhecimento, deixar de somente ler e, praticar aquilo visto.
Descobri com o tempo que se deve explicar os conteúdos de forma simples, incentivá-los a perguntar quando não entendem alguma coisa, e acima de tudo não se tornar uma pessoa distante, pelo contrário ser próximo dos estudantes, ser amigo, isso facilita as aulas.
Dar aulas é a forma mais fácil de tornar-se um bom professor, pois só com a prática posso dar exemplos práticos para que possam ajudar a enxergar a importância do que estávamos aprendendo naquele momento a fazê-lo pensar por um instante: “Que coisa fantástica!”.
Sempre no inicio de cada ano letivo pergunto aos estudantes se querem passar no vestibular; se querem fazer uma boa média na prova, se querem melhorar em biologia; bem, então lhes digo que posso ajudar que podem contar comigo, e de fato é verdade, transpareço nas aulas que quero que aprendam que me importo com eles, para que sirva como mais um incentivo para se esforçarem cada vez mais e que consigam passar no vestibular.
Adoro tornar a matéria interessante, contar histórias para narrar os fatos e claro de forma entusiástica, os fazendo sentirem como se estivessem vendo os acontecimentos, isso é muito válido, principalmente quando se explica ecologia.
Mas de fato a pergunta que quero responder é: por que ser educador? Com certeza lecionar tem muitos desafios; classes numerosas (já houve momentos que tivemos de sessenta a oitenta alunos em sala de aula), muita papelada (plano de aula, plano de unidade, mapa conceitual), além de burocracia rígida, estudantes apáticos, e embora fazendo um trabalho voluntário, sei que existe um salário inadequado para a maioria dos professores. Não é nada fácil, e ninguém disse que seria. Mas apesar das dificuldades são muito gratificantes as noites de quarta-feira, nos primeiros períodos, quando leciono biologia. É amor o que sinto lecionando, sei que para muitos aqui é o único lugar que os incentiva, fico muito feliz em ver que aprenderam o conteúdo.
Ser educador é uma vida criativa e estimulante, meu entusiasmo inicial ajudou-me a superar as dificuldades que tive no início. Descobri que gosto de ensinar, e as pessoas também parecem gostar das minhas aulas.
Feliz foi à hora de ter optado por biologia, pelo meu pai seria um arquiteto, como ele, e assumiria seu lugar. Foi melhor assim, a escolha foi minha e não me arrependo em nenhum instante, nem mesmo quando tive provas difíceis de botânica ou biogeografia na faculdade, mas me inspiro nele quando ensino, gosto de copiar sua competência e dedicação a algo que ama.
Algo que me ajuda, é pensar que estou moldando a mente das pessoas, influenciando seu senso crítico, sua estima e fazendo com que sejam “cabeças pensantes”, ensinar em um cursinho pré-vestibular voluntariado, destinado a reverter essa inclusão social, foi uma das melhores coisas que me aconteceu, me sinto útil revertendo este quadro de injustiça.
Ensinar é muito gratificante, estou convencido do valor da educação e do grande valor que há nos jovens, em sua força e garra de vencer, de vê-los desabrochar e se desenvolver, tornando-se mais capazes e competentes de melhorar sua vida e o mundo.
Ensinar sempre foi uma satisfação para mim e sempre trouxe alegrias, às vezes é exaustivo, mas ver a empolgação dos estudantes em aprender e acompanhar o seu progresso sempre me motivou a prosseguir. Outra situação é ser reconhecido na rua ou nos lugares aonde vou, por estudantes que já passaram pelo zumbi, dizem o quanto aprenderam e como fui importante em seu ensino. É realmente reanimador quando se lembram com carinho dos anos em que estiverem comigo em sala de aula.
Uma das maiores satisfações é ver que consegui despertar o interesse dos estudantes num determinado assunto. Por exemplo, depois de ter explicado conceitos de ecologia, alguns suspiraram, com ar de satisfação, com vontade de continuar a estudar. Essas expressões espontâneas abrilhantam as noites de aula, percebo que consigo estimular neles o desejo de aprender, é muito bom ver os olhos brilharem por terem entendido a matéria.
(*) Márcio de Souza Fernandes é Biólogo pela PUCRS, Especialista em Projetos Sociais e Culturais pela UFRGS e Cursa Especialização em Gestão Ambiental na Faculdade Dom Bosco.
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