sábado, 3 de setembro de 2011

Relato de experiência e "percepção do ambiente" - Márcio propõe uma atividade para o ensino de Biologia

A seguir publicamos a apresentação do Márcio no I Encontro de Educadores do Zumbi, em que além de dar um relato da sua experiência pessoal como professor do Zumbi, ele explica uma atividade que trabalha ao mesmo tempo biologia, consciência corporal e espacial e trabalho em equipe. Abaixo do vídeo há mais informações sobre a atividade e o texto completo do relato.



Percepção do ambiente
Márcio Fernandes 

Objetivo: Condicionamento físico (treinamento de audição, tato e olfato), treinamento à coletividade, solidariedade, confiança e parceria.

Metodologia: Um estudante terá os olhos vendados e será giado por outro colega até determinada árvore (serão utilizadas mudas de espécie arbóreas); após o contato com a árvore retorna ao ponto de início e sem a venda tentará identificar o vegetal.

Conclusão: As atividades lúdicas "quebram traumas e medos", pode aumentar o sentido de responsabilidade e respeito em quem conduz o colega que não está enxergando, além de desenvolver habilidades sensitivas, equilíbrio físico e senso de direção, nos alunos que estão vendados.


Relato de vivência – 8 anos de educação popular (*) 

      Este relato é parte integrante da proposta do I Encontro de Educadores, e está sendo uma experiência fascinante o de tornar-se professor, aprender a cada aula, com erros e acertos a melhor forma de atingir o estudante, de “tocá-lo” com o conhecimento, de mostra-lhe algo novo, inovador à sua vida, e bem mais que isso, provoca-lo a colocar em prática aquele algo novo, aquele conteúdo.

      Passei em Ciências Biológicas na PUCRS em 2003, e já fazia monitoria no Zumbi dos Palmares Pré-vestibular, nunca mais larguei o giz. Foi à maneira que achei de retribuir a sociedade pelo ingresso a faculdade, mostrando aos demais estudantes que podem fazer parte do meio acadêmico.

      Sei que o papel que desempenho em sala de aula reflete na vida dos vestibulandos, e é bem possível que não se esqueçam de mim, não pela “minha beleza”. Mas pela maneira que desenvolvi com o tempo de mostra-lhes o quanto é fácil estudar, e quanto pode ser agradável aprender.

      Vejo confiança nos olhos deles quando estou em sala de aula, naquele momento sei que o desafio de aprender tornou-se fascinante para eles. É recíproco o carinho, o modo de tratar, não há barreiras, isso torna fácil o acesso a suas mentes, a maneira de refletir e pensar sobre o assunto, e saber a melhor forma de fazê-los achar a resposta.

      As turmas sempre são heterogêneas, é um fato, então por que trata-los iguais? E pensando dessa forma que sempre procuro abrir um leque de exemplos didáticos e dinâmicos do cotidiano sobre aquele assunto estudado, e se for necessário darmos as mãos para visualizar uma cadeia alimentar, sendo cada pessoa o representante de um nível trófico, fazemos, ou subir na classe para exemplificar difusão, ai vou eu. O estudante gosta disso, de ver o que se aprende, de sentir, de pegar, de torna palpável o conhecimento, deixar de somente ler e, praticar aquilo visto.

      Descobri com o tempo que se deve explicar os conteúdos de forma simples, incentivá-los a perguntar quando não entendem alguma coisa, e acima de tudo não se tornar uma pessoa distante, pelo contrário ser próximo dos estudantes, ser amigo, isso facilita as aulas.

      Dar aulas é a forma mais fácil de tornar-se um bom professor, pois só com a prática posso dar exemplos práticos para que possam ajudar a enxergar a importância do que estávamos aprendendo naquele momento a fazê-lo pensar por um instante: “Que coisa fantástica!”.

      Sempre no inicio de cada ano letivo pergunto aos estudantes se querem passar no vestibular; se querem fazer uma boa média na prova, se querem melhorar em biologia; bem, então lhes digo que posso ajudar que podem contar comigo, e de fato é verdade, transpareço nas aulas que quero que aprendam que me importo com eles, para que sirva como mais um incentivo para se esforçarem cada vez mais e que consigam passar no vestibular.

      Adoro tornar a matéria interessante, contar histórias para narrar os fatos e claro de forma entusiástica, os fazendo sentirem como se estivessem vendo os acontecimentos, isso é muito válido, principalmente quando se explica ecologia.

      Mas de fato a pergunta que quero responder é: por que ser educador? Com certeza lecionar tem muitos desafios; classes numerosas (já houve momentos que tivemos de sessenta a oitenta alunos em sala de aula), muita papelada (plano de aula, plano de unidade, mapa conceitual), além de burocracia rígida, estudantes apáticos, e embora fazendo um trabalho voluntário, sei que existe um salário inadequado para a maioria dos professores. Não é nada fácil, e ninguém disse que seria. Mas apesar das dificuldades são muito gratificantes as noites de quarta-feira, nos primeiros períodos, quando leciono biologia. É amor o que sinto lecionando, sei que para muitos aqui é o único lugar que os incentiva, fico muito feliz em ver que aprenderam o conteúdo.

      Ser educador é uma vida criativa e estimulante, meu entusiasmo inicial ajudou-me a superar as dificuldades que tive no início. Descobri que gosto de ensinar, e as pessoas também parecem gostar das minhas aulas.

      Feliz foi à hora de ter optado por biologia, pelo meu pai seria um arquiteto, como ele, e assumiria seu lugar. Foi melhor assim, a escolha foi minha e não me arrependo em nenhum instante, nem mesmo quando tive provas difíceis de botânica ou biogeografia na faculdade, mas me inspiro nele quando ensino, gosto de copiar sua competência e dedicação a algo que ama.

      Algo que me ajuda, é pensar que estou moldando a mente das pessoas, influenciando seu senso crítico, sua estima e fazendo com que sejam “cabeças pensantes”, ensinar em um cursinho pré-vestibular voluntariado, destinado a reverter essa inclusão social, foi uma das melhores coisas que me aconteceu, me sinto útil revertendo este quadro de injustiça.

      Ensinar é muito gratificante, estou convencido do valor da educação e do grande valor que há nos jovens, em sua força e garra de vencer, de vê-los desabrochar e se desenvolver, tornando-se mais capazes e competentes de melhorar sua vida e o mundo.

      Ensinar sempre foi uma satisfação para mim e sempre trouxe alegrias, às vezes é exaustivo, mas ver a empolgação dos estudantes em aprender e acompanhar o seu progresso sempre me motivou a prosseguir. Outra situação é ser reconhecido na rua ou nos lugares aonde vou, por estudantes que já passaram pelo zumbi, dizem o quanto aprenderam e como fui importante em seu ensino. É realmente reanimador quando se lembram com carinho dos anos em que estiverem comigo em sala de aula.

      Uma das maiores satisfações é ver que consegui despertar o interesse dos estudantes num determinado assunto. Por exemplo, depois de ter explicado conceitos de ecologia, alguns suspiraram, com ar de satisfação, com vontade de continuar a estudar. Essas expressões espontâneas abrilhantam as noites de aula, percebo que consigo estimular neles o desejo de aprender, é muito bom ver os olhos brilharem por terem entendido a matéria.

(*) Márcio de Souza Fernandes é Biólogo pela PUCRS, Especialista em Projetos Sociais e Culturais pela UFRGS e Cursa Especialização em Gestão Ambiental na Faculdade Dom Bosco.

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