O programa Conexão Repórter do dia 01/06/11 trouxe uma reportagem sobre racismo no Brasil. Apesar do tom sensacionalista, o resultado ficou interessante pelas diversas demonstrações de quão forte ainda é o racismo no Brasil, e do quão velado ele pode ser. Seguem os links para os 4 blocos do programa:
- Parte 1: Casos de rascismo com vendedores ambulantes e rascimo de seguranças particulares.
- Parte 2: Atitudes racistas de vendedores com clientes.
- Parte 3: Racismo policial e estereótipo de bandido racista, rascismo na seleção para emprego, resistência da justiça em reconhecer racismo.
- Parte 4: Guerrilhas racistas nos Estados Unidos e skinheads racistas no Brasil.
Veja o texto sobre a reportagem
publicado no próprio site do programa:
No Conexão Repórter desta quarta-feira, 31 de maio, uma investigação visceral do racismo no Brasil. Câmeras escondidas mostram como negros são discriminados. Em situações do dia a dia, a cor da pele põe brasileiros em desvantagem conforme documentamos com imagens e depoimentos dramáticos. Filmamos com câmeras ocultas dois jovens da mesma idade submetidos a diversas situações. Só uma diferença: roupas e idades semelhantes. A diferença de tratamento que recebem é contundente. Para o negro tudo é mais dificil, humilhante. Mostramos também os bastidores e a origem de organizações internacionais, que pregam a violência contra negros e que tem seguidores no Brasil. Um documento imperdível do racismo em uma nação conhecida pela suposta convivência em harmonia entre diferentes raças.
No Brasil multicultural o preconceito e a intolerância ultrapassam limites. Um ato criminoso praticado violentamente em países como Estados Unidos e disseminado pelo Brasil, nem sempre denunciado. Situações que fazem parte da rotina de muitos brasileiros, obrigados a viver sob a cultura da discriminação deliberada. Estamos em São Paulo, metrópole onde todos os povos e culturas se encontram, se misturam. Onde as diferenças são evidentes e o preconceito ganha força. Para desvendar essa realidade mascarada contratamos dois atores: um branco e um negro. A nossa intenção é fazer com que estes personagens vivam situações comuns do dia a dia. Queremos descobir se no Brasil do século vinte e um, a cor da pele tem algum peso na hora de avaliar uma pessoa desconhecida. Os dois atores se preparam para ganhar as ruas da cidade. Tomamos o cuidado de escolher exatamente o mesmo figurino para os dois.
Na primeira situação que simulamos os atores vão interpretam vendedores de semáforos. O objetivo é ver a reação dos motoristas na hora da abordagem. O primeiro a entrar em cena é Fábio, o ator branco. Num cruzamento da zona sul da cidade, assim que os carros param, ele começa a tentar vender as balas. De longe registramos toda a ação. Aparentemente Fábio não tem dificuldades em se aproximar e conversar com os motoristas. Alguns são bem receptivos. Poucas vezes Fábio se deparou com os vidros fechados. Fábio também registra tudo com uma câmera escondida que carrega na mochila. Para vender mais balas o ator tenta ganhar a simpatia dos motoristas e, muitas vezes, tem sucesso.
Agora é a vez de Tony, o ator negro entrar em ação. Tony usa a mesma tática de Fábio. Tenta ganhar a confiança dos motoristas e oferece balas como cortesia. Mas o que parecia ser uma abordagem certeira toma outro rumo. Muitos motoristas nem abrem o vidro. Tony não tem nem a chance de tentar convencer os motoristas. Alguns fazem questão de mostrar que nem notam a presença do ator. Dez minutos e Tony não consegue vender nenhuma bala.
Mas como explicar a discriminação enraizada, num país que tem entre os seus títulos o de nação da diversidade de raças e culturas? No Brasil, o racismo ganha características próprias. É, na maioria das vezes, camuflado e distoa, de certa forma da discriminação radical e extremista praticada em alguns países. Organizações e manifestações extremistas como a que acabamos de retratar são minoria no Brasil. Por aqui, o mais comum é o racismo velado. Aquele que costuma ser negado, mas na prática existe em gestos, escolhas, discriminações do dia a dia.
Rivelino da Conceição de Oliveira conta que foi discriminado por ser negro quando trabalhava como cozinheiro em uma lanchonete de São Paulo. Ele nos leva até o local onde afirma ter sido vítima de racismo. O colega de trabalho confirma o preconceito. A justiça determina e Rivelino recebe 40 mil reais de indenização da lanchonete. Configurar o crime de racismo é um dos principais desafios da justiça brasileira. O problema se agrava ainda mais quando o racismo é assimilado pela sociedade, não sendo visto como um ato criminoso.
Simone é empregada doméstica. Ela faz parte de um caso histórico de racismo negado pela justiça brasileira, mas reconhecido num tribunal internacional. Simone recebeu uma indenização de 36 mil reais, depois de ter comprovado na justiça dos Estados Unidos, que foi vítima de racismo no Brasil. Tudo começou quando ela abriu o jornal para procurar emprego e se deparou com o anúncio: procura-se empregada doméstica de preferência branca. Simone decidiu procurar a justiça, mas o juiz no Brasil não considerou que ela tenha sido discriminada. Ela recorre, então, a comissão interamericana de direitos humanos da OEA, Organização dos Estados Americanos. E pela primeira vez na história do Brasil um estado é responsabilizado por não não punir o crime de racismo.
Em situações como estas, interpretadas por nossos atores, e vividas por nossos personagens fica cada vez mais evidente a falta de tolerância da sociedade. Conviver com a diferença entre as raças parece estar muito longe da realidade. Quem mais sofre com a discriminação são os negros. Cenas que fazem parte da rotina de milhares de negros no Brasil e no mundo. Situações muitas vezes não denunciadas, esquecidas, impunes.
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